Não conseguia me acostumar com
aquela quantidade intensa de água cobrindo a vegetação herbácea. Parecia que de
uma hora para outra as plantas iriam perder o pigmento de tanto tempo que
passavam submersas, e por alguma sorte minhas botas não se encharcavam quando
precisava percorrer as extremidades do pântano. Além do mais a paisagem que
minha vista alcançava dessa parte da costa leste das Ilhas Britânicas era
completamente diferente do que eu encontrava em casa. O cheiro de roupa mal
lavada inundava minhas narinas, apesar de que eu tinha quase certeza de que
isso não provinha do brejo em si, mas das casas do vilarejo.
—
Não é tão ruim quando você se acostuma. – Salazar estava parado ao meu lado
olhando na mesma direção que eu, observando os camponeses.
Divergente
de tudo que tinha naquele lugar sua aparência se destacava em um contraste
esmagador. Possuidor de uma pele muito branca e olhos verdes esmeralda, ele era
inconfundível pelo sorriso debochado que carregava no rosto. Notavelmente os
Slytherin tinha dinheiro suficiente para alimentar metade do condado se assim
quisessem, mas pelo visto boa parte da fortuna estava cravejada no diamante que
ornamentava a haste da varinha de Salazar.
Sorri
ao comentário do meu amigo, afinal só vinha para esse lugar visita-lo. Não era
um agrado abandonar a charneca onde nasci, sequer um cavalo conseguia trazer
para cá sem que o atolasse no solo úmido das terras do leste.
Sem
comentar que o olhei assim que me dirigiu a palavra. Odiava o fato de Salazar
possuir um incrível poder Legilimens, contudo não falei nada. Mas mantive os
olhos em meu amigo. Não tínhamos
mais dezessete anos, havíamos mudado. Coisas aconteceram e, eu ainda achava que
os problemas que sofremos atingiram Salazar mais do que a mim. Suas feições
eram duas e frias.
—
Diga-me Godric… O que te faz pensar que isto dará certo? – ele indagou enquanto
ainda observávamos o vilarejo.
—
De acordo com Rowena já temos um público bastante interessado na ideia. –
respondi.
Levantei
um dos pés desejando que ele não estivesse atolado no solo lamacento, a
armadura que vestia não era das melhores, mas para me encaixar entre os
cavaleiros da época estava servindo maravilhosamente. Enquanto pensava nas diferenças entre minhas
vestes e as de Salazar, não pude deixar de ser levado pelo brilho do medalhão
que ele carregava em seu pescoço. Não era algo que passava despercebido, não
daquele tamanho, dourado com o S serpentino em sua fronte que facilmente era
capaz de hipnotizar quem o olhava. Além dele, Salazar carregava uma bengala em
que na ponta superior havia uma cabeça de cobra ornamentada.
—
Ela estava nas planícies de inundação. – continuei. — Creio que seja próximo
das terras do Rei. Helga estava com ela.
Salazar
deu de ombros dando meia volta, rumando em direção à rua que dava para a
própria casa.
—
O que te faz pensar que isto resolverá nossos problemas? – perguntou por cima
do ombro tentando ser indiferente.
—
Onde está sua esperança, Slytherin? – ri alcançando-o e colocando a mão em seu
ombro.
Sem
olhar para trás esboçou um sorriso malicioso, o qual eu sabia que sempre ao
surgir na face do meu amigo significava que ele se conteve em me dar uma
resposta grosseira. Eu conhecia Salazar há quase dez anos e sabia o suficiente
para entender toda a desconfiança dele em relação ao projeto que havíamos dado
início.
—
Se prepararmos nossos jovens eles não precisarão passar pelas mesmas
devastações que nós. – insisti. —
Poderão se defender sem maiores preocupações.
♦
As
vassouras surgiram no horizonte, por cima da copa de algumas árvores. Não era
difícil reconhecê-las. Rowena tinha cabelos negros como a noite, uma postura
impecável digna de sua descendência fidalga. Os olhos de Rowena eram tão azuis
quanto os de Salazar eram verdes. Sua vassoura pousou graciosamente na estrada
de terra batida a qual Salazar tinha me levado. Mais atrás a outra bruxa
pousou, contudo não tão elegante quanto a primeira. Esta era muito mais
simpática e extrovertida e isso podia ser observado pela sua expressão facial.
Sempre sorridente, independente da situação, lá estava Helga. O cabelo cor de
cobre batia em seu rosto sobre as sardas quando ela correu até nós.
—
Encontramos um lugar. – disse assim que parou perto de nós. — Fica ao norte das
terras do Rei Edwin.
—
Próximo a Hogsmead. – completou a morena.
— Tess Couldwell nos levou até o lugar. É bastante satisfatório.
—
Os aldeões de Hogsmead chamam o lugar de Hoggy Warty, mas não sei o que
significa. – suspirou Helga batendo os dedos distraidamente no cabo de sua
vassoura.
Entreolhamos-nos,
mas ninguém falou nada por um tempo. Parecia estar anoitecendo, pensei, antes
de me lembrar de que os brejos eram lugares sempre mais escuros que as
charnecas ou planícies.
—
Agora que temos o lugar, precisamos de um nome para a escola. – decidi ser o
primeiro a falar.
—
Por acaso tem algo em mente? – palavras
saíram da boca de Salazar ironicamente. O deboche aumentou com o tempo.
—
Demos a ela o nome que já tem. – respondi.
—
Hoggy Warty? – a sobrancelha dele se ergueu.
Pensei
em responder, porém não sabia se a minha escolha era a melhor opção. Abri a
boca com o intuito de sugerir que ele desse uma opinião melhor, mas Rowena foi
mais rápida.
—
Não. Hogwarts!
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