sexta-feira, 3 de abril de 2015

Hogwarts, o princípio de uma história!

                Não conseguia me acostumar com aquela quantidade intensa de água cobrindo a vegetação herbácea. Parecia que de uma hora para outra as plantas iriam perder o pigmento de tanto tempo que passavam submersas, e por alguma sorte minhas botas não se encharcavam quando precisava percorrer as extremidades do pântano. Além do mais a paisagem que minha vista alcançava dessa parte da costa leste das Ilhas Britânicas era completamente diferente do que eu encontrava em casa. O cheiro de roupa mal lavada inundava minhas narinas, apesar de que eu tinha quase certeza de que isso não provinha do brejo em si, mas das casas do vilarejo.
                   — Não é tão ruim quando você se acostuma. – Salazar estava parado ao meu lado olhando na mesma direção que eu, observando os camponeses.
                   Divergente de tudo que tinha naquele lugar sua aparência se destacava em um contraste esmagador. Possuidor de uma pele muito branca e olhos verdes esmeralda, ele era inconfundível pelo sorriso debochado que carregava no rosto. Notavelmente os Slytherin tinha dinheiro suficiente para alimentar metade do condado se assim quisessem, mas pelo visto boa parte da fortuna estava cravejada no diamante que ornamentava a haste da varinha de Salazar.
                   Sorri ao comentário do meu amigo, afinal só vinha para esse lugar visita-lo. Não era um agrado abandonar a charneca onde nasci, sequer um cavalo conseguia trazer para cá sem que o atolasse no solo úmido das terras do leste.
                   Sem comentar que o olhei assim que me dirigiu a palavra. Odiava o fato de Salazar possuir um incrível poder Legilimens, contudo não falei nada. Mas mantive os olhos em meu amigo. Não tínhamos mais dezessete anos, havíamos mudado. Coisas aconteceram e, eu ainda achava que os problemas que sofremos atingiram Salazar mais do que a mim. Suas feições eram duas e frias.
                  — Diga-me Godric… O que te faz pensar que isto dará certo? – ele indagou enquanto ainda observávamos o vilarejo.
                   — De acordo com Rowena já temos um público bastante interessado na ideia. – respondi.
                   Levantei um dos pés desejando que ele não estivesse atolado no solo lamacento, a armadura que vestia não era das melhores, mas para me encaixar entre os cavaleiros da época estava servindo maravilhosamente.  Enquanto pensava nas diferenças entre minhas vestes e as de Salazar, não pude deixar de ser levado pelo brilho do medalhão que ele carregava em seu pescoço. Não era algo que passava despercebido, não daquele tamanho, dourado com o S serpentino em sua fronte que facilmente era capaz de hipnotizar quem o olhava. Além dele, Salazar carregava uma bengala em que na ponta superior havia uma cabeça de cobra ornamentada.
                   — Ela estava nas planícies de inundação. – continuei. — Creio que seja próximo das terras do Rei. Helga estava com ela.
                   Salazar deu de ombros dando meia volta, rumando em direção à rua que dava para a própria casa.
                   — O que te faz pensar que isto resolverá nossos problemas? – perguntou por cima do ombro tentando ser indiferente.
                   — Onde está sua esperança, Slytherin? – ri alcançando-o e colocando a mão em seu ombro.
                   Sem olhar para trás esboçou um sorriso malicioso, o qual eu sabia que sempre ao surgir na face do meu amigo significava que ele se conteve em me dar uma resposta grosseira. Eu conhecia Salazar há quase dez anos e sabia o suficiente para entender toda a desconfiança dele em relação ao projeto que havíamos dado início.
              — Se prepararmos nossos jovens eles não precisarão passar pelas mesmas devastações que nós. – insisti. — Poderão se defender sem maiores preocupações.


                   As vassouras surgiram no horizonte, por cima da copa de algumas árvores. Não era difícil reconhecê-las. Rowena tinha cabelos negros como a noite, uma postura impecável digna de sua descendência fidalga. Os olhos de Rowena eram tão azuis quanto os de Salazar eram verdes. Sua vassoura pousou graciosamente na estrada de terra batida a qual Salazar tinha me levado. Mais atrás a outra bruxa pousou, contudo não tão elegante quanto a primeira. Esta era muito mais simpática e extrovertida e isso podia ser observado pela sua expressão facial. Sempre sorridente, independente da situação, lá estava Helga. O cabelo cor de cobre batia em seu rosto sobre as sardas quando ela correu até nós.
                   — Encontramos um lugar. – disse assim que parou perto de nós. — Fica ao norte das terras do Rei Edwin.
                   — Próximo a Hogsmead. – completou a morena.  — Tess Couldwell nos levou até o lugar. É bastante satisfatório.
                   — Os aldeões de Hogsmead chamam o lugar de Hoggy Warty, mas não sei o que significa. – suspirou Helga batendo os dedos distraidamente no cabo de sua vassoura. 
                   Entreolhamos-nos, mas ninguém falou nada por um tempo. Parecia estar anoitecendo, pensei, antes de me lembrar de que os brejos eram lugares sempre mais escuros que as charnecas ou planícies.
                   — Agora que temos o lugar, precisamos de um nome para a escola. – decidi ser o primeiro a falar.
                   — Por acaso tem algo em mente? –  palavras saíram da boca de Salazar ironicamente. O deboche aumentou com o tempo.
                   — Demos a ela o nome que já tem. – respondi.
                   — Hoggy Warty? – a sobrancelha dele se ergueu.
                   Pensei em responder, porém não sabia se a minha escolha era a melhor opção. Abri a boca com o intuito de sugerir que ele desse uma opinião melhor, mas Rowena foi mais rápida.

                   — Não. Hogwarts!

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