domingo, 12 de julho de 2015

Anos a Fio ~



Where'd you go? I miss you so...

Eu esperei. Por tanto tempo, poderia dizer que foi por uma vida inteira. Achei que fosse mentira quando me disseram que eu poderia vê-lo. Ainda não acredito que realmente está aqui, ou que eu estou aqui. Preciso te falar tantas coisas... Amei outro homem, tive filhos, netos. Não me olhe assim, sei que você disse que eu deveria fazer isso, mas era difícil demais. Eu te via em tudo. Em todas as canções, principalmente. Por que tá tudo tão escuro? Estão sentindo minha falta? Mas... Você está dizendo que vai ficar tudo bem, de novo. Como senti falta de ouvir isso.
Meu amor, eu tive tantos medos! Tive medo de conhecer as pessoas e elas conseguirem enxergar e perceber o que eu pensava. Tive medo do futuro. Medo de não conseguir chegar até o fim. Só nunca tive medo de te reencontrar. O que eu sinto por dentro, na sua presença, foi o que eu esperei por todos esses anos. Demorou demais, sabia? Foi dolorido, cansativo e desgastante. Não, não ouse me pedir desculpas. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu faria tudo outra vez. Mas eu tive medo de esquecer isso. Não queria que desaparecesse das minhas memórias. Isso... Pegue minhas mãos. Por que eu não tenho mãos? O que eu sou? Seu olhar cheio de ternura continua o mesmo, que eu sempre lembrei. Ele sempre foi uma das poucas coisas que me acalmava. Não quero que se sinta culpado. Nada disso foi sua culpa. Eu sei que tentou manter a promessa de nunca me deixaria. Acredite, você a cumpriu. Eu senti você o tempo todo comigo. Talvez, seja o motivo que tenha feito muita gente duvidar da minha sanidade. Mas eu não me importo.
Não sinto mais dores. Nem as dos últimos anos, nem as que passei por décadas com essa distância. Aconteceram coisas que eu queria que tivesse visto, você iria gostar tanto. Não realizei nenhum dos nossos planos. Não porque não quisesse, mas eram os nossos planos. Não teria sentido continuar sozinha. Queria contar às pessoas que estou bem. Posso? Tudo bem. Eles entenderão. Como sabia que era eu? Mudei tanto. Não tinha cabelos brancos quando nos conhecemos. Acho que vou demorar a me acostumar com essa coisa de não ter um corpo.
Então... Lembra da nossa música? É. Em cada solidão vencida eu desejava o reencontro contigo. Não sei se poderia ter sido mais rápido, mas eu esperei e não me arrependo. Afinal, não foi tão ruim assim morrer.

Seems like it's been forever that you've been gone.

Please come back home!



 ★ 21/12/1993 12/07/2010

sábado, 11 de abril de 2015

[REVIEW] Perdão, Leonard Peacock




Essa semana decidi escrever sobre esse segundo romance do escrito norte americano, Matthew Quick. Pra início de conversa, gostaria de compartilhar que o Sr. Quick é muito simpático e atencioso com seus fãs. Eu tive o prazer de participar de uma mesa de diálogo com ele na Bienal do Livro, que aconteceu aqui no Rio ano passado, e durante todo o discurso Matthew se focou no famoso O Labo Bom da Vida, mas em um breve resumo deixou claro que ler Perdão, Leonard Peacock seria mudança na dinâmica de ver as coisas.
Então, temos um título intrigante, no meu ver. Quem leu a obra deve estar se perguntando, da mesma forma que eu o porquê desse perdão. Digo, em nenhum momento há alguém que peça o perdão do Leonard, apesar de que muitas pessoas o deveriam fazer, mas não fazem. Daí eu sempre fico pensando e pensando a respeito dos títulos quando eles não se tornam claros durante a leitura e com esse livro não foi diferente. Aí me veio à mente que possivelmente, pelo rumo da história, quem leu sabe, que este perdão poderia vir do próprio Leonard do futuro. Ok, isso ficou estranho, né? Vamos tentar entender as coisas de cada vez.
Temos um jovem que certa manhã acorda com a ideia de que em seu aniversário ele daria um tiro na cabeça de seu inimigo, o famoso Asher, e cometeria suicídio logo em seguida, mas antes ele precisa se despedir de quatro pessoas e entregar-lhes presentes.
Tanto em Perdão, Leonard Peacock quanto em O Labo Bom da Vida, Quick deixa seus leitores intrigados no início ao fim com um suposto acontecimento que desencadeou os fatos. Leonard é um menino que, por algum motivo, tem raiva de seu ex-melhor amigo da escola e quer se vingar. Inicialmente, eu pensei que era algo adolescente, mas acabei sendo surpreendida com a crítica social e psicológica encontrada no decorrer do romance.
Há três pontos que me chamaram bastante a atenção, e um deles se refere à alienação da juventude contemporânea. É descrito que Leonard ama as aulas sobre o Holocausto, ministradas pelo professor Herr Silverman, porém seus colegas de classe costumam se opor às ideias dadas pelo professor, o que segundo o próprio Leonard o deixa realmente irritado com a mesmice em que se encontra seus colegas. Quando indagados a respeito das atitudes alemãs durante a Segunda Guerra Mundial, Leonard narra para o leitor o quanto eles, em sala, são hipócritas ora ou outra dizendo que jamais, nem sob pressão teriam entrado para o exército nazista, jamais matariam pessoas inocentes. E nesses momento o professor aprofunda essa crítica à alienação jovem quando ressalta que mesmo vivendo em pleno início do século XXI, em um país livre os jovens optam assim mesmo por usa tênis da Nike ou da Adidas, camisas da Hollister etc. para se encaixar em um determinado grupo, o que o não uso dessas peças não permitiria. Por que então declaram fielmente que não acompanhariam Hitler? Essa questão é passada mais de uma vez para o leitor por nosso narrador-personagem Leonard Peacock.
O segundo ponto que eu marquei em minha leitura como sendo interessante é a raiva que Leonard sente do ex amigo Asher e, como eu já disse anteriormente, pensei ser algo comum, de adolescente, apesar de que decidir matar o melhor amigo não devia ser consequência de um ato inocente. Pois, então, quando Leonard está em frente à janela de Asher, com a arma apontada para ele através do vidro, nos é esclarecido o motivo da angustia de Leonard, o que para mim não deixa de ser uma enorme crítica social. A história começa quando Asher vai passar um final de semana com um tio, pescando, mas quando volta dessas viagem Asher está muito diferente, altamente estupido e grosseiro. Leonard, uma criança, não entende o comportamento do melhor amigo que agora pede insistentemente para brincar de luta, o que acaba gerando um assedio em relação ao Leonard. Tomamos conhecimento então de que Asher passa por algum trauma com o tio, durante a viagem, possivelmente uma violência contra seu corpo e começa a fazer o mesmo com Leonard, que prontamente começa a ser “acusado” de ser gay.
A terceira, e para mim, a mais importante das críticas sociais encontradas, é o desprezo da mãe em relação ao menino. Há alguns meses comecei a assistir Criminal Minds, uma série que tem como objetivo demonstrar para o pública como funciona a cabeça de serial killers. Conforme passam os episódios, eles vão traçando os perfis dos assassinos em série, sempre tentando buscar a raiz do problema para aniquilá-la logo cedo, e baseados em inúmeros casos um dos dados sempre colocados em evidência na série informa que a maioria dos serial killers se tornam esse tipo de monstro por algum distúrbio proveniente da formação do seu caráter. Mesmo mostrando, inclusive, que esses assassinos possuem no cérebro uma formação diferente das demais pessoas, o que dá o chute inicial para começarem a matança é a constituição mal feita da família, algo na construção da vida dessa pessoa ficou devidamente errada quando ele era criança, desde a perda da mãe ou do pai, quanto abuso, ou ainda pior, quando ele sofre o abuso e os pais preferem se omitir. E é exatamente isso que acontece aqui com o jovem Leonard Peacock. Ok, ele não é um assassino em série, é um suicida, mas creio que a linha entre o estilo de matança seja bem tênue, afinal tanto um quanto o outro só vê a saída dos problema na morte. O que quero dizer aqui é que Leonard decide se matar no mesmo dia em que chegou, na data do seu aniversário e durante todo o romance é descrito o quanto a mãe não se importa com ele. Seu pai desaparecido em algum lugar da Venezuela só lhe deixou a antiga arma do avô e uma medalha, a mãe, por sua vez, simplesmente foi embora para New York botar pra frente a carreira de estilista e deixou um menino, com dezessete anos sozinho na Filadélfia, e a todo momento é lembrada por Leonard que ela sequer se lembrou de ligar para lhe dar os parabéns. Estou longe de desvendar os mistérios da mente humana e os impulsos gerados por ela, mas achei a correlação interessante nesse âmbito.




Por últimos, Herr Silverman, o professor, sabe que Leonard precisa de uma ajuda em especial, que ele é diferente dos demais alunos, então o aconselha a escrever cartas como se alguém no futuro estivesse mandando para ele. A primeira vem de um comandante de uma espécie de exército do qual ele é o Tenente. A segunda de sua futura esposa, conhecida como A. E as duas últimas de sua filha, S: uma dela criança, e uma dela adolescente. Quando eu disse, lá em cima, que me peguei observando o título do livro e associando a uma das cartas do futuro, foi que quem mais poderia dizer Perdão, Leonard Peacock? Sua mãe não lhe pediu desculpas em momento algum, tampouco Asher. Mas poderia ser ele mesmo, em uma dessas cartas do futuro, o rascunho de um diário em que o Leonard adulto, com família, tenente pedisse perdão ao Leonard adolescente por um quase ter deixado ele se matar. Claro, que essa é somente uma observação, existem muitas outras que infelizmente o Sr. Quick não disponibilizou durante o diálogo.

Mas, uma coisa realmente me deixou intrigada. A última carta, a da filha S adolescente contempla o último capítulo do livro, e fala como ele foi um bom pai, como ela o ama e o agradece por tudo, eu realmente me vi surpreendida com a ideia de ser uma carta verdadeira. Não uma das que ele fez instruído por Herr, mas uma carta de verdade, em seu próprio futuro. O que acham? 

I become a part of your past ~


 Just say that we agree and then never change and suddenly

Toneladas de ferro fundido e a tecnologia digital faziam do Mark-4 um dos melhores modelos de Jaeger já criados desde a invasão. Fazia séculos que o Canadá era um país que dificilmente se envolvia com os problema dos outros, mas quando os Kaiji emergiram e atacaram a British Columbia, prontamente o governador se juntou à Liga do Pacífico. Com duas máquinas potentes o Canadá aderiu à causa, e quatro dos melhores combatentes foram designados para pilotar os nossos próprios monstros. O Dynamo foi o segundo a ser construído, e há três décadas e meia está sob domínio dos Roth. Walter Roth e Wilden Roth foram os primeiros a compartilhar as memórias e por volta de 2023 mataram três Kaiji próximo ao nordeste da Rússia, na época junto com o companheiro Cherno Alpha. (...) 

Sabiam que cedo ou tarde a responsabilidade cairia sobre eles, no princípio o tio Edgard perdeu as duas pernas em combate, logo depois o pai Phillipo foi atingido por um Kaiju e o mesmo o quebrou em duas partes antes de jogá-lo ao mar. Oliver já tinha estado lá, estivera ao lado do pai no último ataque, mas ela não. Foi preparada a vida inteira para aquele momento, para o dia em que ajudaria a dar vida ao Dynamo, só não imaginou que seria também um dia tão doloroso. Olhou nos olhos de Oliver quando ele retornou ao centro de treinamento. Estava coberto de graxa e sequer precisou dizer nada, Yavanna sabia o que tinha acontecido. O pai sempre ressaltara isso, que eles seriam os melhores pilotos que a Liga iria ver, porque eles se comunicavam mentalmente desde o dia em que foram gerados. Perdida em pensamentos, sentiu Oliver segurar sua mão com força depois do apertado abraço e ela sabia que, se era pra ser assim, se havia chegado o momento, com a companhia dele seria muito mais fácil.




I become a part of your past

sábado, 4 de abril de 2015

De onde vêm as inspirações?


Não é novidade que artistas precisam de uma força do além para movê-los a criar. O grande Homero pedia ajuda às musas, aquelas entidades que levaram a compor as duas poesias épicas mais conhecidas da história da humanidade. Alguns outros se dispõem a apreciar paisagens, momentos da vida, problemas sociais; e outros, ainda, da mesma forma que eu se descobrem na música. Longe de mim ser uma artista. Oush... Sou somente uma mortal tentando alcançar a glória (?) na internet HUSAUHSUAHAHUSHU Voltando ao que interessa, a minha fonte inspiradora é a música. As pessoas que me acompanham no Twitter percebem o quanto eu me amarro em diversos cantores e faço comentários a respeito. O mais inusitado é o arco musical que eu uso como inspiração, desde One Direction até Queen, mas tudo tem uma explicação lógica que pode ser utilizada. Longe de mim, também, comparar tais bandas, mas cada história tem um plano diferente, assim como cada filme tem sua trilha sonora ou cada novela tem sua música de abertura. Assim também acontecem com os contos, cada um terá sua marca tanto literária quanto musical. O que eu mais gosto em usar músicas para me inspirar é o fato de que elas sempre irão lembrar aquela história... Por mais que passe um tempo e eu escreva outras, quando volto a ouvir aquela música, a história volta com ela. É como acontece quando eu escuto Broken Wings (Mr. Mister) e a Kim e as indústrias Wallach parecem nunca ter sido deixadas de lado. Até bom lembrar disso, porque é um conto só rascunhado, preciso escrevê-lo ;)

         Ontem mesmo eu ouvi uma das minhas musas inspiradoras. P!nk. Sim, a P!nk. Gente, eu me acabo ouvindo P!nk, talvez pela irreverências, talvez pela dinâmica das músicas dela, ou talvez, ainda, pela voz inconfundível da mesma. O importante aqui é exaltar que a loira já foi tema de muitos contos, fanfictions e personagens. Utilizando-me de Just Give Me A Reason como primeiro passo para escrever a separação de dois dos personagens mais importantes que já tive. Ela, já descrita em um conto. Ele, em contrução. A canção não só descrevia a separação, mas a ânsia da reconciliação de ambas as partes, tal como no roteiro que os dois desenvolveram em suas vidas. Na verdade, nesse romance, a P!nk tem aparecido bastante como fonte inspiradora e o resultado não me desaponta. É uma boa aposta para continuar a confiar. Abaixo temos Alecia Moore com os cabelos vermelhos em U+Ur Hand, primeiro clipe que vi da artista. Obrigada, P!nk, pelas músicas tão sensacionais, que apesar de tão diferentes conteúdos, se tornaram sua marca. 


         Como eu disse anteriormente, as inspirações irão variar de acordo com o que se deseja escrever, com o ambiente em que se inserirá o personagem, com o que se está construindo e, quando se usa a música como esse princípio, claro que sua banda favorita não pode faltar. Ainda que ela seja um pagode, é ela que denomina o que é música para você. A minha? Uma banda nórdica de rock sinfônico de 1996. Nightwish. O mais legal do estilo da banda que envolve o heavy metal com o metal sinfônico na voz feminina, que passou de Tarja Turunen, Anette Olzon e Floor Jensen, é que praticamente todas as músicas são feitas pensando em lendas da região, logo temos melodias próprias para escrever histórias. O jeito Viking de algumas canções inspiraram e muito quando eu escrevia Hogwarts, Uma História! pelo simples fato de se passar na Idade Média, coisa que é difícil encontrar na maioria das músicas um cunho tão antigo quanto. O último álbum Imaginaerum foi todo escrito para a trilha sonora de um filme homônimo, e adivinhem só que prato cheio arrumei



         Por último não poderia faltar minha princesinha teen, perfeição para descrição de personagens adolescentes, como a Ayla em Metamorphosis. Taylor Swift *-* Vomitando arco-íris aqui, principalmente porque há tempos atrás não me agradava muito esse mundo mais HSM e Disney Channel e ainda que a Tay não fizesse parte eu a incluía junto deles, mas de um ano e pouco pra cá ela me surpreendeu de todas as formas possíveis e sim, espero o show dela no Brasil pra morrer de cantar.



         Às vezes me perguntam de onde vêm a minha inspiração, como fazer pra conseguir uma. E sempre respondo que se deve escrever o que vem na cabeça, depois você dará os contornos estilísticos. O primeiro conto que escrevi, aos dezesseis anos, de chamava Unforgettable e era pra uma pessoa especial, e o medo que eu tinha de errar era tão grande que eu fiz da seguinte forma. Selecionei 23 músicas e escrevi cada capítulo baseado em uma música, e acreditem, tinha de tudo... Nickelback, Paradiso Girls, José Augusto, t.A.T.u. e no final todos que leram pediram que eu fizesse outros. Resultado, não se preocupe, a inspiração acabará vindo de algum lugar, ou realmente de uma força do além para lhe ajudar.



Cantai, ó Musa, a ira de Aquiles [...] 


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Hogwarts, o princípio de uma história!

                Não conseguia me acostumar com aquela quantidade intensa de água cobrindo a vegetação herbácea. Parecia que de uma hora para outra as plantas iriam perder o pigmento de tanto tempo que passavam submersas, e por alguma sorte minhas botas não se encharcavam quando precisava percorrer as extremidades do pântano. Além do mais a paisagem que minha vista alcançava dessa parte da costa leste das Ilhas Britânicas era completamente diferente do que eu encontrava em casa. O cheiro de roupa mal lavada inundava minhas narinas, apesar de que eu tinha quase certeza de que isso não provinha do brejo em si, mas das casas do vilarejo.
                   — Não é tão ruim quando você se acostuma. – Salazar estava parado ao meu lado olhando na mesma direção que eu, observando os camponeses.
                   Divergente de tudo que tinha naquele lugar sua aparência se destacava em um contraste esmagador. Possuidor de uma pele muito branca e olhos verdes esmeralda, ele era inconfundível pelo sorriso debochado que carregava no rosto. Notavelmente os Slytherin tinha dinheiro suficiente para alimentar metade do condado se assim quisessem, mas pelo visto boa parte da fortuna estava cravejada no diamante que ornamentava a haste da varinha de Salazar.
                   Sorri ao comentário do meu amigo, afinal só vinha para esse lugar visita-lo. Não era um agrado abandonar a charneca onde nasci, sequer um cavalo conseguia trazer para cá sem que o atolasse no solo úmido das terras do leste.
                   Sem comentar que o olhei assim que me dirigiu a palavra. Odiava o fato de Salazar possuir um incrível poder Legilimens, contudo não falei nada. Mas mantive os olhos em meu amigo. Não tínhamos mais dezessete anos, havíamos mudado. Coisas aconteceram e, eu ainda achava que os problemas que sofremos atingiram Salazar mais do que a mim. Suas feições eram duas e frias.
                  — Diga-me Godric… O que te faz pensar que isto dará certo? – ele indagou enquanto ainda observávamos o vilarejo.
                   — De acordo com Rowena já temos um público bastante interessado na ideia. – respondi.
                   Levantei um dos pés desejando que ele não estivesse atolado no solo lamacento, a armadura que vestia não era das melhores, mas para me encaixar entre os cavaleiros da época estava servindo maravilhosamente.  Enquanto pensava nas diferenças entre minhas vestes e as de Salazar, não pude deixar de ser levado pelo brilho do medalhão que ele carregava em seu pescoço. Não era algo que passava despercebido, não daquele tamanho, dourado com o S serpentino em sua fronte que facilmente era capaz de hipnotizar quem o olhava. Além dele, Salazar carregava uma bengala em que na ponta superior havia uma cabeça de cobra ornamentada.
                   — Ela estava nas planícies de inundação. – continuei. — Creio que seja próximo das terras do Rei. Helga estava com ela.
                   Salazar deu de ombros dando meia volta, rumando em direção à rua que dava para a própria casa.
                   — O que te faz pensar que isto resolverá nossos problemas? – perguntou por cima do ombro tentando ser indiferente.
                   — Onde está sua esperança, Slytherin? – ri alcançando-o e colocando a mão em seu ombro.
                   Sem olhar para trás esboçou um sorriso malicioso, o qual eu sabia que sempre ao surgir na face do meu amigo significava que ele se conteve em me dar uma resposta grosseira. Eu conhecia Salazar há quase dez anos e sabia o suficiente para entender toda a desconfiança dele em relação ao projeto que havíamos dado início.
              — Se prepararmos nossos jovens eles não precisarão passar pelas mesmas devastações que nós. – insisti. — Poderão se defender sem maiores preocupações.


                   As vassouras surgiram no horizonte, por cima da copa de algumas árvores. Não era difícil reconhecê-las. Rowena tinha cabelos negros como a noite, uma postura impecável digna de sua descendência fidalga. Os olhos de Rowena eram tão azuis quanto os de Salazar eram verdes. Sua vassoura pousou graciosamente na estrada de terra batida a qual Salazar tinha me levado. Mais atrás a outra bruxa pousou, contudo não tão elegante quanto a primeira. Esta era muito mais simpática e extrovertida e isso podia ser observado pela sua expressão facial. Sempre sorridente, independente da situação, lá estava Helga. O cabelo cor de cobre batia em seu rosto sobre as sardas quando ela correu até nós.
                   — Encontramos um lugar. – disse assim que parou perto de nós. — Fica ao norte das terras do Rei Edwin.
                   — Próximo a Hogsmead. – completou a morena.  — Tess Couldwell nos levou até o lugar. É bastante satisfatório.
                   — Os aldeões de Hogsmead chamam o lugar de Hoggy Warty, mas não sei o que significa. – suspirou Helga batendo os dedos distraidamente no cabo de sua vassoura. 
                   Entreolhamos-nos, mas ninguém falou nada por um tempo. Parecia estar anoitecendo, pensei, antes de me lembrar de que os brejos eram lugares sempre mais escuros que as charnecas ou planícies.
                   — Agora que temos o lugar, precisamos de um nome para a escola. – decidi ser o primeiro a falar.
                   — Por acaso tem algo em mente? –  palavras saíram da boca de Salazar ironicamente. O deboche aumentou com o tempo.
                   — Demos a ela o nome que já tem. – respondi.
                   — Hoggy Warty? – a sobrancelha dele se ergueu.
                   Pensei em responder, porém não sabia se a minha escolha era a melhor opção. Abri a boca com o intuito de sugerir que ele desse uma opinião melhor, mas Rowena foi mais rápida.

                   — Não. Hogwarts!

[REVIEW] Quem é você, Alasca?




Devo admitir que após as leituras de O Teorema Katherine e Cidades de Papel, eu estava ficando um tanto decepcionada com John Green e suas personagens femininas. Diferente da nossa queridíssima Hazel Grace, de A Culpa é das Estrelas, tanto Lindsey Lee Wells quanto Margo Roth Spielgerman, apesar de suas singularidades não eram personagens muito profundas. Digo, inclusive, que deixavam a desejar no quesito “interesse”, afinal quem ganha realmente atenção nos respectivos livros são os rapazes sobre quem a história é contada e suas aventuras. Quem é você, Alasca? me intrigou desde o instante em que pus os olhos nele, o título em si despertou muita atenção e imaginação, mas quando comecei a ler sobre o magricela Miles em seu novo colégio interno me peguei colocando o livro em “Mais um livro do John com uma garota igualmente sem graça e um cara louco por ela.”, mas aos poucos somos apresentados à Alasca. Sim, a Alasca, uma menina de nome incomum, fumante, pervertida, e incrivelmente animada. Por mais que Alasca seja o completo aposto de Hazel, na minha concepção literária das obras do John, eu consigo colocar as duas no mesmo patamar, pois ambas conseguem ser tão apaixonantes que te fazem entrar de cabeça no livro. Bom, então nós temos a intrigante Alasca, que como é contato no meio da história, ela mesma escolheu seu nome, pois seus pais assim deixaram que fosse. Nós temos o nosso narrador-protagonista Miles, que vai para um colégio interno no Alabama, atrás do Grande Talvez de sua vida. Não podemos deixar de ressaltar que Miles tem um hobby interessante, que é o de colecionar últimas palavras. Sim, ele se lembra das palavras ditas por célebres personalidades no seu leito de morte. Temos o Chip “Coronel” Martin, que é o companheiro de quarto de Miles; Takumi, o amigo oriental, além da doce e tímida Lara, que se é a namorada de mentirinha de Miles.

O mais intrigante do livro não é simplesmente a história dos adolescente e suas descobertas da vida em si, mas as descobertas da vida que o próprio leitor consegue fazem mediante as experiências enfrentadas pelos personagens. Há indagações, aparentemente inocentes, que fazem insinuações de problemas que muitas vezes nós nos recusamos a confrontar em nossas vidas. Uma das frases ícones desses pequeno romance, são as últimas palavras de Simon Bolívar, que nos é apresentada pela Alasca: “Como sairei deste labirinto?”. A pergunta é questionada pelo livro inteiro, fazendo o leitor ter múltiplas interpretações a respeito do que é de fato este labirinto. Do que Bolívar queria sair? Alasca nos introduz a ideia de que o labirinto é o sofrimento, e dando uma resposta a Bolívar, ela escreve que o meio de sair do labirinto é rápida e diretamente. Mas e se tivermos outra conotação para o labirinto? E se o labirinto for a metáfora da própria vida?

John Green foi surpreendente em Quem é você, Alasca?, pois no momento em que você se aventura em busca de quem é a Alasca, você acaba se confrontando com você mesmo. Afinal, quem somos nós? O “eu” é aquele você perto dos amigos, ou o verdadeiro “eu” é aquele deitado no escuro do próprio quarto?

Além de tudo, o livro é emocionante, cativante, e entusiástico. Dá a sede de continuar lendo, a aventura não declina e em momento algum fica entediante, e vale a pena ser lido, não uma nem duas vezes, mas várias. Assim como em A Culpa é das Estrelas o enredo não é corriqueiro e o final acaba se tornando bastante imprevisível, o que não deixa de ser uma das marcas do autor.


Abaixo segue a canção Somebody That I Used To Know que, particularmente, achei que tem tudo a ver com a narrativa do John e toda vez que escuto me faz lembrar da Alasca e do Miles... Além de ser uma ótima inspiração para futuras fanfictions ;)



She goes her own way ੴ

    Seu pai não era muito de falar, e Evangelinne sabia disso. Sempre vira seu pai a maior parte do tempo calado, mas sempre lhe dissera muito, em atitudes principalmente. Não era estranho de se esperar que em uma noite tão turbulenta como aquela, com tantos trovões e relâmpagos, Frank não fosse deixar sua filha nem ao menos colocar o braço para o lado de fora de casa. Ele podia ser o botânico maluco e lunático que a cidade inteira conhecia desse modo, mas quando se tratava de proteger a cria ele sempre fora excepcional. Frank não se casara de novo, nem o pretendia. Amava sua filha acima de qualquer coisa, afinal tinha a criado sozinho, tendo que transferir todo o seu trabalho para dentro de casa. Não pode mais fazer expedições nem tampouco passar noites adentrando matas fechadas como gostava de fazer na época da universidade. Como moravam numa antiga fazenda no norte do país, lá mesmo foi instalada uma estufa para o trabalho do botânico, mas ele nunca deixou de acampar com a pequena Evangelinne sempre que podia. Sair um pouco do ambiente civilizado e entrar em contato com a natureza intocada. O pai sempre fez questão que ela tivesse esse estímulo, deu a ela uma horta para que tomasse conta e Eva adorava sua responsabilidade. Quando não estava na escola, passava a maior parte do tempo cuidando de suas rosas, parte da coleção de flores de Frank, e cuidado de sua pequena horta nos fundos da casa. Ela se impressionava com força com que as pequenas plantas se desenvolviam mesmo quando o solo não era tão propício. Mas naquela noite nem acampar, nem excursão pela floresta estava dentro dos planos de pai e filha. Frank se encontrava sentado no chão com as costas encostadas no sofá e ele olhava atentamente uma amostra de orquídea tropical que havia recebido de um aluno que ouvira sua palestra. Evangelinne sentada no sofá, próximo à cabeça do pai estendia as páginas de um livro sobre as pernas dobradas. Um livro que possuía a capa cor de vinho e grandes imagens em seu interior, um livro sobre mitologia. Não um livro desses que relatam por cima as histórias dos deuses imortais, sátiros e ninfas. Era algo profundo, e a cada página que Eva lia, mais parecia que aquilo era tão real quando sua plantação de cenouras. Ganhara ele de Frank no natal e prometera que leria tudo, mas por enquanto não havia chegado nem ao meio do mesmo. 


     Papai, é verdade que os deuses vinham até os mortais e tinham filhos com eles? a menina perguntou subitamente deixando de olhar o livro por alguns instantes e fitando a nuca do pai. Frank ainda distraído com sua amostra pareceu não ter se dado conta da pergunta. ― Papai! ― ela falou mais alto fazendo com que dessa vez o homem a notasse e deixasse um pouco a flor de lado. 
    ― Diga, minha flor. ― ele virou a face para a garota levando uma mão até os óculos ajeitando-os na ponte do nariz. 
    ― Aqui diz que segundo a lenda os deuses do Olimpo vinham ao mundo mortal e se reproduziam com mortais. ― ela voltou ao argumento deixando um leve sorriso brincar em seus lábios. ― Hilário, não acha? 
    Eva não percebeu, voltara sua visão para o livro, mas Frank tinha deixado a orquídea cair no chão. Sua face mais que pálida agora havia se voltado para frente enquanto, pelo que parecia, ele tentava retomar o fôlego. 
     Se eu encontrasse um deus desses eu fazia um estrago. riu-se Evangelinne apontando a figura do Cupido. Frank voltou-se para a filha se ajoelhando em sua frente. 
     O que mais fala aí a respeito disso, Eva? ela regrediu algumas páginas passando o dedo por sobre as linhas impressas. Nada demais, só aquilo mesmo que eu disse. suspirou continuando a ler as palavras que se seguiam. Bom, os filhos que nasciam eram chamados de semideuses, ou em outros casos, de heróis, pois herdavam algumas vantagens de seus pais imortais, porém eram mortais.
    Frank engoliu seco, o que passou imperceptível aos olhos de Eva. O que quer que tenha mexido com ele, não queria demonstrar para a filha, em hipótese nenhuma, ela deveria saber que sua vida guardava mais do que segredinhos escondidos em diários. Escondia, talvez, o que poderia fazê-la decidir qual rumo tudo tomaria de agora em diante, mas ela não voltaria a ser a Evangelinne. Só a Evangelinne.